Coloridos florais em desenhos e colagens, dançarinas e tocadores de caixa chamam atenção em traços lúdicos e singulares de artistas mirins por meio de uma experiência artístico-pedagógica em interação com praticantes marabaixeiros. Além de representar rostos e corpos de personagens, os trabalhos revelam identidades, coletivas e individuais, descobrindo potenciais criativos ao dar vida às memórias que modelam essa tradição viva.
Os trabalhos desta mostra temática são fruto de uma oficina de desenho na Escola Estadual Brasil Novo em que estudantes do 5⁰ ano do Fundamental-I desenvolveram a criação de personagens com estudos de modelo vivo dos agentes culturais do Marabaixo. A atividade artística é parte do projeto de extensão coordenado pelo Professor Dr. Ronne Dias, do Instituto Federal do Amapá e aprovado pela Lei Federal Paulo Gustavo de arte e cultura, com o apoio da Fumcult/PMM, a ação cultural funcionou como intervenção pedagógica para formação cultural de público, assim como reconhecimento e valorização desse patrimônio cultural imaterial do Brasil.
Valorizar o Marabaixo nas escolas permeia um processo de reafirmação cultural negra amazônica, com seus elementos visuais e simbólicos, é parte fundamental da história, sendo conduzidas através da arte e com discussões críticas no presente, seja também uma forma de planejar aquilo que se deseja para o futuro. Ao desenvolver relações entre arte, infância e expressões culturais no trabalho pedagógico é uma forma de conceber que as interações sociais no mundo devem ser o desafio de uma educação contemporânea.
De modo geral, os desenhos foram representativos aos modelos que posaram naquele momento com ângulos e pontos de vista distintos. Os personagens construídos trazem uma multiplicidade de detalhes nas indumentárias e suas estampas, inserindo adereços e instrumentos, assim como, na proporção dos personagens representados... No aspecto visual, os trabalhos revelam indicações de olhares perceptivos considerando uma observação descritiva e ativa sobre a realidade, sobretudo, os traços espontâneos demonstram um modo de ser dessa fase infantil.
Os tecidos florais ganham destaque nas composições visuais. A preferência, especialmente, na figuração da saia da personagem dançarina e na camisa do personagem percussionista. Assim como, inserir elementos que alguns deles já conheciam como o mastro e a bandeira da festividade. As flores conseguiram ser representativas nos desenhos, elas foram adicionadas ao plano de fundo, suspensas no ambiente gráfico. O elemento flor é considerado metáfora da visualidade marabaixeira, salientadas nas indumentárias, exibidas no cabelo da dançarina, na camisa do tocador e presentes nos versos poéticos do ladrão de Marabaixo.
Jocivannia Maria S. Nobre Dias
Curadora
(16 de junho de 2025).
Imagens da Oficina de Criação de Personagens do Marabaixo, com estudadntes do 5º ano Fundamental -I e praticantes marabaixeiros Lorrany Mendes e Davi Luiz Mendes, realizado no pátio da Escola Estadual Brasil Novo-AP.
Da esquerda p/ direita: Professora Ana Silveira, titular da turma do 5º ano acompanhando as produções; equipe de colaboradores do projeto de intervenção pedagógica Isaías de Brito, Ronne Dias, Jocivannia Dias, Laura Camacho, Lorrany e Davi.