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contato da artista
O trabalho de instalação “Partes de mim nº 2” (Figura 1) é o fragmento de um trabalho que foi realizado primeiramente em um barco ancorado na orla de Macapá e performatizado pela própria Mapige Gemaque em 2014. Na obra, a artista nos proporciona visualizar e refletir sobre os acontecimentos de violência doméstica ocultos no cotidiano de mulheres, ribeirinhas ou não, e que são silenciadas pelo medo no interior de suas residências.
Esse trabalho participou da exposição “Estante do (In) visível” na Galeria da escola Cândido Portinari, quando houve grande discursão por trazer um cenário autêntico da realidade vivida por mulheres que são espancadas, agredidas e oprimidas por seus parceiros, fato comum em regiões do Amapá, mas que se estende a um apelo mundial.
A Instalação “Fragmentos da Amazônia” (Figura 2), realizado em 2014, foi produzida na escola bosque no Distrito do Bailique/AP, através de oficinas de Ecoarte e objetos sustentáveis, oferecida para 20 mulheres, mães de família e jovens da comunidade. Mulheres que viam na arte um caminho para garantir renda e manter o sustento da família. A artista nos convida a refletir que a Amazônia deve ser protegida e não destruída covardemente pelas grandes empresas e que o sustento de mulheres ribeiras depende da própria natureza e de seus recursos naturais.
Na Figura 3, obra realizada em comemoração aos 40 anos da escola Cândido Portinari, onde a artista foi aluna e aperfeiçoou muitas técnicas. Durante a feitura do trabalho, iniciado em seu ateliê, Mapige concluiu ao vivo na Escola Cândido Portinari em um ato performático a qual utilizava mechas de seu cabelo na composição da obra. A “Máscara Mapigiana” fez parte de uma série de outros trabalhos da artista, com o objetivo de mostrar seu processo criativo e de formação de onde ela estava vindo e como ela estava atualmente. Na ocasião o renomado prof. Antônio Munhoz Lopes, segundo a artista, se pronunciou com críticas severas ao seu trabalho dizendo que sua pintura estava desconstruindo a estética do belo, mas que a parabenizava porque seu nome revelava um potencial artístico para a arte amapaense.
A performance “Minha cor(é)vermelha”, na Figura 4, foi uma das ações artísticas que estava presente como “po(é)tica” de enfretamento contra os conflitos sociais ocorrido na aldeia Waiãpi. Emyra wajãpi vivia e estava presente! Justiça era o que queriam diante de tamanha selvageria.
Na luta contra a violência aos povos indígenas a artista buscou integrar o processo de criação em performance como ritual, imagem como pele da performance, na fugacidade do “(ins)tante”, invocar a potência do vivido, misturando cores, peles, conflitos, conceitos, tecidos, dores e sentimentos em um ritual que se encontrou com quem estava presente e construiu interações mentais, físicas e visuais, “(in)corpo-ação”, naquele momento, pela veracidade dos fatos e tomada pela energia emitida pela presença das pessoas, pelo canto dos indígenas e pelas cenas provindas do contexto social a ação tomou força e dimensões que abalou o sensível e o simbólico nas ruas de Macapá. A mensagem evoca que é preciso “(re)xistir para existir nas terras amazônicas e assim, continuar lutando por mais direitos à vida e ao território!”.
O quadro “(In)memória” (Figura 5) foi uma pintura realizada pela Sofia Gemaque e pela observância de sua mãe Mapige Gemaque durante os rituais cotidianos da vivência em família. Local de trocas e experimentos entre artes, artesanato e performance vivenciados na casa da artista um espaço onde se forma e se encontra em cada ação da vida.
Reflexões estão aparentes no universo infantil, assim fez Sofia quando pintou o coração. “Em um momento de brincadeira minha cria pintava a mão livre este coração e perguntou-me mamãe este é um coração de verdade? Falei para ela que na arte a verdade é subjetiva e se ela estava dizendo que era um coração então era”, diz Mapige. Contudo, o ato inocente trazia a tristeza de uma criança expressada pelo coração e as cores que usou para demonstrar a dor de perder um parente tragicamente. Para a artista, a pintura (in)memória é visceral, efêmera e líquida, ao mesmo tempo que expressa os sentimentos da po(é)tica narra as dores do coração e do corpo, lembrando-nos do vermelho da vida e o preto do vazio, da dor e do luto.
A obra “Memória imersa” (Figura 6) mostrar a relação da arte com o lugar onde ela é produzida, vivida pela artista que ressalta um entrecruzamento entre cultura e memória imersa no igarapé das mulheres por mais de 70 anos de (des)colonização do Amapá com o Pará. A obra que se originou de uma fotografia da própria artista embrenhada nas águas do Igarapé. A partir das imagens em dipedi elaborou em alto relevo, destacando em dourado, as mulheres, representado por sua pessoa que passaram por ali. Portanto, a imagem nos remete reflexões sobre as dificuldades locais e as peculiaridades identitárias com o lugar onde se vive, o Igarapé de uma Amazônia, de um Norte, muitas vezes esquecido. Os percursos que a artista faz ao realizar um trabalho em seu tempo e espaço e com as mulheres que dão nome a um dos cartões postais da cidade “Igarapé das mulheres”, se questiona, quem foram essas mulheres que definiram espaço, fixaram território e construíram histórias e memórias culturais neste lugar? Para Mapige o trabalho lembra que “a memória dessas mulheres imersas neste lugar, entre corpos, tecidos e pegadas em tempos contemporâneos (cons)troem e se (des)constroem de acordo com o tempo (In)corpo – ação. Assim, como as pegadas serão levadas pelas ações do tempo e da natureza, as mulheres que dão nome ao igarapé, ficaram na transitoriedade da memória”.
Nesta obra “Mandala – O olho da vida” (Figura 7), nos traz uma reflexão sobre a construção de que a vida é mágica. Assim como a mandala ser um símbolo de integração e harmonia, seu formato circular representa uma concentração de energia. A energia vital que direciona, guia, observa o fluxo contínuo, que para a artista retrata “uma conversa com as vidas e com as forças que veem da alquimia do universo!” Suas cores e padrões despertam diferentes sensações em quem as vê. Esse belo trabalho está exposto na recepção do Conselho Tutelar da Zona Sul de Macapá.
Cristiane Machado Corrêa Ferreira
Curadora
Obra (in) memória, 2021
Mandala: O olho da Vida, 2020
Memória imersa, 2019
Máscara Mapigiana, 2014.
Parte de mim nº 2, Performance, 2014.
Parte de mim nº 2, Performance, 2014.
Performance “Minha cor (é) vermelha”, 2019. Foto: Alinne Brito
Performance “Minha cor (é) vermelha”, 2019. Foto: Alinne Brito
A Instalação “Fragmentos da Amazônia”, realizado em 2014, foi produzida na escola Bosque no Distrito do Bailique/AP.