PADRE FÚLVIO GIULIANO
EXPOSIÇÃO
DO SOCIAL AO SACRO NAS OBRAS DO MISSIONÁRIO FÚLVIO GIULIANO
PADRE FÚLVIO GIULIANO
EXPOSIÇÃO
DO SOCIAL AO SACRO NAS OBRAS DO MISSIONÁRIO FÚLVIO GIULIANO
Fúlvio Francesco Giuliano, nasceu na Itália, na cidade de Milão em 6 de março de 1939. Onde passou toda a sua infância e mocidade formando-se em Perito Industriale Edile (técnico em edificações). Cumpriu com o serviço militar obrigatório e logo após dá baixa no exército foi designado, por intermédio de seu amigo, o empresário industrial Dr. Marcelo Cândia, para o Brasil em 1962 na condição de leigo voluntário dos trabalhos da Prelazia de São José de Macapá, com o principal objetivo de construir o Hospital-escola São Camilo e São Luiz.
No Amapá, foi bem acolhido pelo povo ribeirinho e pelas comunidades que se desenvolviam em Macapá e Santana, o qual passou a admirar a cada dia. O sentimento de apego foi retratado através da arte, com pinturas que refletiam o cotidiano do amapaense em tempos não tão gloriosos, mostrando em seus quadros as mazelas humanas e os desafetos causados pelas desigualdades sociais.
No mesmo período Aristides Piróvano, Bispo Prelado de Macapá o incumbiu também de arquitetar as construções das Igrejas no Amapá. A arquitetura e operacionalização das obras prediais foram executadas por Fúlvio Giuliano, a exemplo da Igreja São Benedito, no Laguinho; Nossa Senhora de Fátima, no Santa Rita; a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no Buritizal; Cinema Paroquial no Bairro do Trem; dentre muitas outras construções entre igrejas, capelas, escolas e adaptações que iam surgindo para abrigar as obras de cunho religioso e de caráter social, com intuito de atender principalmente a população carente.
Com o amadurecimento de sua mística, incentivado com o contato direto com as necessidades materiais e espirituais da população, em 1967, Fúlvio formalizou o pedido ao Bispo da Prelazia de Macapá, Dom José Maritano para fazer os estudos próprios a receber os votos de padre.
No mesmo ano foi nomeado Coadjutor da Paróquia Nª. Sª. de Fátima no Bairro de Vila Maia, em Santana. No início de 1980, Fúlvio pediu para ingressar no Pontifício Instituto das Missões Exteriores – PIME, sendo aceito, pôde ingressar formalmente no dia 13 de março de 1980, continuando em seu ofício de Coadjutor na Paróquia de Vila Maia, hoje bairro Central de Santana.
Durante sua jornada missionária e artística no Amapá pintou o belo, o ribeirinho, a morte, o sacro e o ícone (técnica de valor espiritual) e construiu escolas e igrejas para desenvolver a fé e a educação por meio da imagem e das fortes expressões expostas em muitas obras.
Em 27 de agosto de 1980, viajou para a Itália para tratamento de saúde. Neste período, padre Fúlvio frequentou um curso de iconografia bizantina, na escola Rússia Cristiana. A partir de então, Fúlvio decide dedicar-se apenas à arte icônica (pintura). O ícone é um mistério, permite representar a imagem profunda e eterna do Cristo na sua humanidade e divindade”, afirmou Pe. Fúlvio para a Revista mundo e missão. 1
Seus trabalhos envolveu a pintura de quadros, murais gigantescos, cadernos com ilustrações bíblicas para as aulas de catequese, e fundou duas escolinhas de pintura para dá continuidade no embelezamento das igrejas e capelas que eram construídas por ele e a comunidade. Atuou como professor de desenho no Colégio Amapaense, expôs em vários salões de arte no Amapá e Pará, muitos no SESC/AP e outros organizados por seu amigo Antônio Munhoz Lopes quando estava à frente da secretaria de cultura.
E como pintor das mazelas sociais, do ribeirinho e do cotidiano do povo amapaense da época, se destacou pela sensibilidade de ver o homem como criatura divina e que merecia destaque pelas experiências diárias que vivenciava junto da comunidade e suas aflições. Suas obras foram divididas em três fases segundo (FERREIRA e SOUZA, 2007) que é compreendida pela fase Social, os Grandes Murais e o Ícone. Cada fase possui características específicas na evolução dos seus desenhos e pinturas e que muitas eram realizadas simultaneamente, pois dependia muito de onde seu trabalho era exposto, nas paredes das igrejas com os grandes murais, ou na pintura de um fato histórico como a morte de seus pares ou simplesmente na profunda oração que o levou ao desperta para ícone.
Esse foi seu lema até os últimos dias de sua vida. Pois, no dia 05 de junho de 2007, padre Fúlvio Giuliano morre aos 68 anos em um hospital de Genova, Itália. Devido a sérias complicações renais.
Chegou a promover uma de suas últimas exposições, realizada nos dias 06 a 21 de maio de 2007, na Itália, tendo como ponto de destaque as obras “Os doze discípulos”, produzidas na escola iconográfica “San Francesco Saverio”, escola criada por Pe. Fúlvio em Gênova. Estes quadros sacros faziam parte da última missão de Fúlvio, designados especialmente para decorar a Nova Catedral de Macapá. A exposição destas obras foi uma alternativa de angariar recursos para pagar as despesas que as obras teriam até chegarem à Macapá. E mesmo doente pensou em tudo, até fazer um termo de doação das obras, e deixando para seu irmão gêmeo Franco a conclusão das obras e a missão de enviá-las à Macapá, devido se sentir muito ligado, pois “o Amapá foi à terra que lhe acolheu.”2
Fulvio, padre-artista-construtor nas ribeiras da Amazônia soube representar no meio artístico, social e cultural o povo amapaense, deixou mais de 120 obras espalhadas por Macapá, Santana e Porto Grande, e outras centenas de ícones espalhados pelo mundo. Foi um grande percursor do ensino de arte na Amazônia amapaense. Em uma Amazônia que se esvazia e se enche de relações culturais, afetos nas múltiplas formas de relações do homem com a vida, assim como as marés, no vai e vem das águas trouxe consigo inovação, ensino, arte, cultura, solidariedade e esperança para os visíveis e os invisíveis presentes em suas obras.
Conheça algumas obras do artista Fúlvio Giuliano :
Assim morreu pracaxi
Benedito acabou de sofrer
O enterro de padre Vitório
A última ceia
A fuga do povo de Deus
2º acidente (autorretrato), 1972. Óleo sobre tela. (60x80). Macapá-ap.
Desastre, 1963. Óleo sobre tela. (60x80). Macapá-Ap.
Domingo de Ramos (autorretrato), 1973. Óleo sobre tela. (70x100). Macapá-Ap.
Santo Antônio, 1983. Óleo sobre tela. (60x100). Macapá-Ap.
Último sacramento, 1975. Óleo s/ tela. (60x80). Macapá-Ap.
Escada de Jacó, 1967. Óleo sobre tela. (30x80). Macapá-Ap.
Autorretrato, 2004. Óleo sobre tela. (40x70). Macapá-Ap.
Desastre, 1963. Óleo sobre tela. (60x80). Macapá-Ap.
Pentecoste, s/ data de criação, tinta acrílica sobre parede, painel. Macapá-Ap.
Jesus crucificado, 1984. Óleo sobre madeira. (150x100). Macapá-ap.
Maria mãe da Igreja, 1985. Óleo sobre tela. (100x80). Macapá-ap.
Bodas de Canaã, 1977. Tinta a base de água sobre parede com cal. Restaurada em 1996.
Filho pródigo, 1967. Óleo sobre tela. (60x100). Macapá-ap.
O enterro de pe. David, 1976. Óleo sobre tela. (70x100). Macapá-Ap.
O enterro de pe. Bassanini, 1973. Óleo sobre tela. (70x65). Macapá-Ap
Vigília fúnebre, 1973. Óleo sobre tela. (70x65). Macapá-ap.
Reunião, 1978. Óleo sobre tela. (80x100), Macapá-ap.
Exéquias do Papa João XXIII, 1963. Óleo sobre tela. (60x45). Macapá-ap.